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A ÉPOCA DE OURO DE HOLLYWOOD
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O Morro dos Ventos Uivantes, 1939

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Desde 1895, ano oficial que os críticos e historiadores dizem ter sido criado o cinema, que os filmes são realizados em diferentes culturas e com diferentes propósitos. Diversas escolas e gêneros apareceram durante a história do cinema, mas foi o chamado Cinema Clássico Americano o responsável pela formação da indústria cinematográfica. Com a I Guerra Mundial (1914 - 1918) em curso, a produção cinematográfica européia foi abalada e já nesta época Hollywood começava a despontar com seus grandes estúdios e realizadores como D W. Griffith, por exemplo, e no final da primeira década do século XX chegava à liderança do mercado mundial. Hollywood, com um novo sistema de produção, trabalhava os filmes numa escala industrial para serem distribuídos e exibidos mundialmente: criou o sistema de empréstimo de filmes (anteriormente pertenciam a quem os comprasse e os projetasse), e criou a padronização da película (35 mm) e dos filmes (criação de gêneros: fórmulas próprias e cultivo de público cativo). E é assim até hoje com os famosos Blockbusters (arrasa-quarteirões), conseguindo fazer com que a indústria cinematográfica americana ocupe um dos primeiros lugares no ranking da economia dos Estados Unidos. Atravessou a década de 1920 se estruturando e trazendo muitos profissionais europeus para a América, gente como Charles Chaplin, por exemplo; entrou na década de 1930 com suas indústrias cinematográficas cada vez mais poderosas e continuou trazendo profissionais europeus, gente como Lang, Hitchcock, Wilder, Siodmak e muitos outros. Cada um com sua experiência criativa e com sua contribuição artística a oferecer e a somar com os realizadores americanos, mas todos, sem exceção, embora cada um conseguisse burlar o esquema de um jeito ou de outro, tinham que seguir o modelo hollywoodiano de fazer cinema. Modelo este que tinham opções individualistas onde o personagem principal (a estrela) era de certa forma “fabricado” e os filmes tinham objetivos puramente espetaculares e comerciais (nada diferente dos dias de hoje, não é?), e mantinham uma narrativa alienante fazendo com que o espectador arrebatado pelos aspectos pseudológicos e afetivos da trama narrada não tivessem a possibilidade de refletir ou assumir um distanciamento crítico com relação à visão do mundo que lhe é apresentado. Esta narrativa clássica tinha coerência e impacto dramático, fazendo com que o espectador fosse capturado pelo filme. Dizem os críticos que Hollywood inventou uma arte que não observava o princípio da composição contida em si mesma e que, não apenas eliminou a distância entre o espectador e a obra de arte, mas deliberadamente criou a ilusão, no espectador, de que ele estava no interior da ação reproduzida no espaço ficcional do filme. Naquele tempo o espectador assistia aos filmes no cinema, diferentemente de hoje que há outras opções, e se encontrava numa sala escura, isolado do mundo exterior, e se encontrava num estado para-hipnótico propício para ser arrebatado pela narrativa do filme e então se identificava com o personagem principal dando a resposta esperada dos produtores dos grandes estúdios. E desta forma descarregava o peso do dia a dia, aliviando as próprias paixões, através das situações vividas pelos atores, canalizando seus desejos e frustrações. E desta forma saía da sessão de cinema satisfeito e apaziguado, pronto para retomar sua vida cotidiana. Algo como acontece com os filmes americanos da fase contemporânea (após 1970), quando utilizam a narrativa melodramática da época da fase de ouro de Hollywood, mesmo que estes filmes não sejam obras-primas no tocante a sua realização sem retoques e sem defeito. Um exemplo é o filme “Titanic” (1999) de James Cameron, por exemplo, que comprova que o bom e velho melodrama ainda funciona muito bem com o espectador. Ainda que com tomadas de câmeras mais rápidas do que os clássicos da fase de ouro de Hollywood, mesmo assim permanece o gérmen do melodrama ressaltando e dando ênfase ao mocinho pobre e a mocinha rica e a dramaticidade intensa que anuncia e expõe o impedimento de suas relações amorosas. E é nisto que consiste a força deste filme e não na parafernália de efeitos especiais quando do afundamento do navio. Muito embora este seja o pano de fundo com tom de alta dramaticidade que autentica o filme com o estilo dos melodramas clássicos de Hollywood, principalmente os das décadas de 40 e 50. Naqueles podemos citar a Guerra Civil dos Estados Unidos como pano de fundo no melodrama que conduziu toda a história de “E o Vento Levou” (1939) ou a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo do filme “Casablanca” (1942), e assim por diante.
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Uma Rua Chamada Pecado, 1951
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No entanto, este sistema hollywoodiano de fazer cinema, passou a sofrer certa mudança, já no final da década de 50 e em toda a década de 60 houve uma transição do estilo clássico para os filmes contemporâneos que efetivamente começaram no início da década de 70. Na verdade, as coisas no cinema foram acontecendo naturalmente e nunca houve intenções primárias de fazer tais e quais transformações nas estruturas de narrativas desta ou daquela obra. Aconteceram, por vários motivos; quer por influências de outros estilos e profissionais ou econômicos ou de idealismo ou consciência social ou política; não importa, simplesmente aconteceram. No entanto, é preferível ser flexível e estender a fase do Cinema Clássico Americano até o final da década de 60, assim como aceitar a sua existência já na década de 30, do que delimitá-lo num período curto que “sufoca” as obras características dos melodramas hollywoodiano.
É necessário dizer que o melodrama já existia desde o nascimento do cinema, pois o drama nasceu com o cinema e com ele a exploração natural das relações humanas, ressaltando a luta entre o “bem” e o “mal” em toda a sua diversidade, fazendo, de certa maneira, que gêneros distintos fossem surgindo para caracterizar esta ou aquela situação. Um bom exemplo seria pesquisar os filmes de D. W. Griffith e outros das décadas de 10 e 20 e certificar que existiam situações melodramáticas pra lá de comum em suas obras; como o protagonista vítima das mais diversas situações, luta entre o desejo e o dever social, problemas familiares, com temáticas e elementos cristãos ou elementos sociais, etc. No entanto, os homens de Hollywood estruturaram o esquema e transformaram o melodrama num filão muito valioso, com características próprias e comuns aos filmes desta época. A principal diferença dos melodramas das décadas de 10 e 20 e mesmo vários da década de 30 para os melodramas de Hollywood foi a conjunção da mise-em-scène (composição material da cena, cenografia, marcação dos atores), cortes (antes eram poucos) e montagem (já que antes os movimentos de câmeras eram limitados) se constituiu no que se convencionou-se a chamar de narrativa clássica do cinema.
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Juventude Transviada, 1955

Mas, contudo, o melodrama hollywoodiano continuou a opor as duas forças já conhecidas, o “bem” e o “mal”, mas com total superioridade do “bem”, muito embora o final do filme, às vezes, pareça mostrar o contrário. Porém, os que representam o “bem”, são normalmente vítimas inocentes dos vilões e só nos últimos minutos dos filmes é que conseguem saírem vitoriosos. Os vilões são geralmente esnobes e em muitos casos ricos e as vítimas são humildes e pobres e têm como a maior arma a sua reta condição moral. É normal nestes filmes o sofrimento dos mocinhos e ao final a punição dos opressores. Porém, o melodrama Hollywoodiano longe da tragédia, apesar do sofrimento do “bem”, apresenta a sua redenção moral superior, recusando a justificação trágica para a miséria humana. É lógico que houve exceções, sempre há exceções! Mas no geral, os filmes caracterizavam por incutir nos protagonistas qualidades provenientes de elementos cristãos tais como a abnegação (Stella Dallas, Mãe Redentora, 1937), o sacrifício (Casablanca, 1942), redenção (E o Vento Levou, 1939), purificação (Tarde Demais para Esquecer, 1957), mas também com elementos negativos como a rejeição (Palavras ao Vento, 1956), a cobiça (A Malvada, 1950) etc.
Mas o Cinema Clássico Americano não era apenas os chamados dramalhões, mas também filmes com temas sociais como “Cidadão Kane” (1941), mas que, no entanto, mantinham em sua estrutura narrativa os dramas dos relacionamentos resolvidos ou não resolvidos das tramas. E o filme do gênio Orson Welles, apesar de ser classificado por drama e por uns e outros até como “expressionista” ou “noir”, tem na realidade, um melodrama (a do protagonista e de suas duas mulheres) que dá consistência e suporte a toda a trama do filme. Além, lógico, de um problema não resolvido do protagonista quando de sua época de infância. Quer dizer, a própria infância perdida, mas não esquecida, que é motivo da própria existência do roteiro do filme.
Um outro aspecto muito importante desses filmes, muitos deles melodramas, é a chamada “moral oculta”, quando, apesar do cinismo do protagonista (Rick Blaine em “Casablanca”, por exemplo), quando menos se espera ele é capaz de um ato de abnegação, altruísmo, sacrifício, etc.; dando ao filme a força moral pretendida pelo autor. Mas também carrega um aspecto não menos importante que é a necessidade de uma “cura interior” do protagonista por causa de rejeição que é exteriorizada por ele por atos de rebeldia que “oculta” esta necessidade. Um bom exemplo é o filme “Vidas Amargas” (1955) de Elia Kazan com o astro da época James Dean.
Outra característica dos melodramas (que é a base dos filmes desta sessão) é a música. Já que o termo melodrama é a junção de melos e o gênero drama. Isto porque nestes filmes é comum a música marcar o compasso da trama, é quando sabemos que tal e qual personagem entrará em cena pela música que prenuncia. As novelas brasileiras exploram até hoje este sistema!
Porém, se por um lado, a maioria destes filmes denota a abnegação dos personagens endossando a força moral deles, por outro lado deixa claro que a trama tem um quê de surrealismo que foge a realidade cotidiana. Um exemplo é o filme “Tarde Demais para Esquecer”, quando o casal protagonista tenta a todo custo evitar se encontrarem dentro de um transatlântico com centenas de tripulantes, e é totalmente inverossímil que de repente se vejam dentro da piscina do navio a baterem suas cabeças de encontro um ao outro num mergulho casual. Porém, é o que ocorre e é assim que muitas tramas destes filmes são sustentadas. Os filmes contemporâneos viriam contrapor este esquema surreal ao levar a trama com o pé no chão e focar a realidade não só da narrativa como da forma de filmar as cenas. No entanto, se os filmes contemporâneos conseguiram uma evolução, por assim dizer, ficaram órfãos do glamour natural desta fase de ouro do cinema americano.
E esta nossa página é justamente para falar destes filmes maravilhosos da época de ouro de Hollywood, o chamado Cinema Clássico Americano.
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